Para iniciar o relato da minha trajetória na área cultural em Mato Grosso, vou contar como foi quando comecei a me interessar pelo fazer artístico em especial no teatro, pois na época nunca havia passado pela minha cabeça, que este meu desejo de ser atriz poderia um dia se transformar em uma profissão.
Agora posso olhar para o passado e verificar que se hoje me tornei uma artista profissional, atuante no mercado há quase trinta anos é porque tudo começou com um desejo, um sonho, uma vontade, uma sede enorme por novas experiências. A vontade inicial era apenas conhecer, participar, explorar novas perspectivas, fazer novas amizades, enfim, coisas que a vida em momentos de distração clama por mudanças.
Depois de começar no teatro, com o tempo, veio o encantamento pela arte e rapidamente tive a certeza de que havia descoberto algo que me completava, e ser atriz era o que eu queria pelo resto da vida.
Este meu reconhecimento na arte foi muito importante para muitas tomadas de decisões ao longo da minha carreira, com esta certeza enfrentei desafios, obstáculos e até mesmo falta de dinheiro e todos estes impedimentos inevitáveis da vida, que aos poucos foram superados ou amenizados através da dedicação ao trabalho.
Realmente tudo começa pelo desejo, mas às vezes leva muito tempo para ser realizado, para agir; porém quando se acredita naquilo que propôs a fazer e percebe que sua escolha lhe faz bem, porque é nesse momento que você descobre suas potencialidades, habilidades, autonomia, sociabilidade, limites e principalmente as conquistas.
Foram muitos anos me dedicando exclusivamente ao trabalho de atriz em Cia de teatro desde 1994 – para citar algumas: Cena Onze, Grupo Unitela, Grupo Tauá, Cia Mosaico entre outras atuações em TV e cinema.
Porém nem tudo é somente a vontade de ser, nem tudo é só encantamento. Depois de alguns anos de dedicação ao teatro, comecei a notar que precisava ir mais além se quisesse viver de arte, o que realmente não foi e nunca será fácil. A trajetória é longa e cheia de detalhes, percalços, momentos em que pensei em desistir e outros que me deram força para continuar.
Vou tentar resumi-los aqui: Depois que adquiri mais conhecimento trabalhando em Companhias de Teatro, comecei a pesquisar como e quais eram os caminhos que eu poderia trilhar para que pudesse viver da minha arte.
Nesse caminhar, o apoio dos amigos(as), foram primordiais, mais do que da família, que no início praticamente nunca apoiaram, mas hoje não os culpo por isso, pois se preocupavam comigo e hoje também percebo que toda essa barreira que criaram, só me fortaleceu, pois tive que lutar dia após dia para conquistar os meus sonhos, o meu espaço e provar para mim mesma que eu era capaz de realizar algo através das minhas próprias mãos, mesmo que em muitos momentos eu não acreditava que conseguiria, mas não desisti. Muitas vezes temos que parar, observar, escutar e entender como as coisas funcionam e tentar se encaixar nessa engrenagem complexa que é a vida.
Comecei a observar outros artistas, companhias, grupos e iniciei um estudo da trajetória de sucesso de cada um. Acredito que estas fontes de inspiração me fortaleceram em muitos aspectos, era realmente algo motivacional.
Depois comecei a fazer vários cursos para atores, procurar parcerias com outros atores, produtores culturais e notei que quando você se movimenta no mercado, com certeza será lembrada pelo seu esforço e determinação (na época não tinha essa percepção, mas hoje posso analisar de outro ângulo).
Então, começaram a aparecer convites para que eu pudesse ensinar por meio de oficinas, cursos e palestras, o meu conhecimento sobre arte de representar e encontrei nesse caminho uma fonte de renda para que eu pudesse investir em outros sonhos. Não demorou muito surgiram os desafios, para citar um; recebi um convite do Sesc MT para realizar propostas e projetos na área. Foram tantas as ideias que surgiram, a mais ousada foi a direção do meu primeiro espetáculo infantil “Drácula para Chocolate”, onde escrevi a peça, selecionei elenco, atuei na direção, elaborei cenário, iluminação, sonoplastia e figurino, praticamente fiz tudo sozinha, com uma alegria enorme, me dedicava todos os dias e pra mim era um prazer ver nascer algo que criei com as minhas próprias mãos “literalmente”.
Foi um sucesso! Uma entrega total de tudo o que eu havia aprendido durante anos, como dizem naquela velha frase “aprendi na faculdade da vida”. Depois deste trabalho foram surgindo dezenas de outros convites que se eu fosse listar aqui utilizaria muitas laudas.
Quando você valoriza o seu trabalho as pessoas começam a reconhecê-lo como singular, por outro lado o mercado cultural cobra a sua formalização.
Um importante detalhe para aqueles que querem viver de sua arte é: faça o que goste, registre todos os seus trabalhos, tenha um site se não for possível comece com um Blog, crie sua rede social, formaliza-se o quanto antes, é necessário ter o seu CNPJ para atender a demanda e a parte burocrática da grande máquina cultural.
Todo esse processo levou tempo e passei por muita dificuldade na época, porém não pense que com tantos trabalhos realizados eu tinha uma segurança financeira; nunca tive, mas aprendi e ainda estou aprendendo a lidar com estas instabilidades do mercado cultural; logo desenvolvi algumas estratégias que o segmento cultural foi revelando.
Quatro importantes tomadas de decisões fizeram toda a diferença na minha trajetória artística: a primeira foi me formalizar cadastrando-se no MEI (Micro Empreendedor Individual), elaborando uma página no blog, somente muito depois consegui um site; a segunda foi buscar parcerias e profissionais que me ajudassem a realizar os projetos, a terceira foi ter conhecido a Arte de Contar Histórias, outra linguagem artística que na ano de 2005 era pouco ou quase não conhecida como uma potencial profissão do futuro e a quarta decisão foi ingressar em uma faculdade.
Outro ponto crucial e muito importante destacar aqui foi à idealização de projetos a partir da área que eu havia firmado em minha profissão, que foi a Contação de Histórias (que é uma longa história entre a transição da atriz para a narradora de história, que também não caberia relatar aqui), enfim outro momento eu conto.
Quando comecei a pensar em projetos relacionados a contação de histórias e literatura, notei que em Mato Grosso não havia um projeto específico para essa área, e o meu desejo era atender um número maior de pessoas que me procuravam, sedentas por aprender sobre a Arte de Contar Histórias.
Sozinha não estava conseguindo atender a tantos pedidos, pois a demanda só aumentava e a saída foi buscar ajuda, para realizar esse sonho. Fiquei por alguns dias pensando o que eu poderia fazer, teria que encontrar alguém que fosse do meio cultural, pois seria mais fácil compreender o meu projeto, e resolvi me encontrar com a Mazé Oliveira, uma amiga, também atriz que me ajudou a colocar as minhas ideias no papel. A parceria deu certo, tivemos o primeiro projeto premiado pela Funarte em 2009, e depois em outros editais e estamos até hoje trabalhando em projetos que acreditamos.
Um dos principais é o projeto “Contos do Mato” que neste ano de 2021 está na sua quarta edição. Enfim, nos dias atuais em meio a pandemia estamos em outro processo de reaprender, reelaborar, silenciar, readequar, reformular, etc….etc… e a arte? Permanece em nós…
Finalizo com uma frase que me veio à cabeça.
“Acredite em si, mesmo hesitando que não seja capaz”.